quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A DANÇA DA PIZZA

"A dança da pizza, por Leonardo Augusto Beckhauser*

Não é de hoje que sentimos certo desconforto com a proximidade das eleições. A descrença com a classe política está consolidada. A imagem do político brasileiro está tão estabelecida que já soam ridículos e infantis comentários nas rodas de amigos do tipo "os políticos são ladrões". Ninguém mais se sente bem em falar isso abertamente. Já passou o tempo em que criticar a moral e o modus operandi dos políticos era demonstração de oposição legítima de um ser politizado. Hoje, grosso modo, quem ousa criticar corre o risco de levar a pecha de ingênuo, pois todos já sabem que a desonestidade e a corrupção fazem parte da "natureza" dos políticos. Claro que esse quadro é desolador.

Igualmente evidente que a maioria dos que aderem a tal postura não o fazem por gosto, mas por acharem que esse feito contribui para uma sobrevivência menos atormentada. Dentro de uma análise do instinto humano, natural que pensemos assim. Todavia, dentro de um padrão lógico, é inaceitável que seres letrados submetam importantes fatos de sua vida em posição de inércia a governantes cujas idéias e ações são dispostas em função de seus interesses pessoais, cujo comprometimento com o povo não passe de eloqüência barata em períodos eleitorais. Infelizmente, ideologias partidárias e bandeiras morais de um partido não são mais conceitos críveis em nossa sociedade. Discursos contrários a esse posicionamento não passam de retórica. Claro que não falo aqui do gosto, letal a longo prazo, do assistencialismo vigente.

Existem, sim, alguns heróis honestos dentro desse mar de lama, ainda crentes nesses princípios primordiais e hoje mais próximos da utopia para a imensa maioria. Esses bravos e invioláveis remanescentes ou insurgentes sofrem duas vezes diante de suas nobres ações e firmes convicções. A primeira, pelo preconceito dos corruptos dentro do meio político, que, naturalmente, os exclui; a segunda, pelo povo, que também naturalmente por vezes os confundem com os demais.

O Lula não sabia de nada, o Maluf não fez nada, o ACM era bonzinho e a deputada Ângela Guadagnin foi até engraçadinha na "dança da pizza". Compreensível que a maioria não se indigne mais com tais absurdos, pois, caso contrário, essa imensa massa não teria opção plausível senão a feitura de uma revolução, nos níveis e moldes necessários para que uma mudança real seja efetivada.

O que não se pode suportar, o que dilacera a alma, o espírito, é percebermos o tamanho da corrupção, do desdém com o povo, e cruzarmos os braços frente à certeza do absurdo. Ou entregamos os pontos e vivemos sob a égide de aceitar o inaceitável, como se nada pudéssemos fazer frente à natureza das coisas e das instituições envolvidas, ou nos levantamos e como sociedade organizada que somos usamos das possibilidades legais e morais para mudarmos essa execrável situação em que vivemos.

O Poder Judiciário vem demonstrando sinais positivos de luta nesse sentido. Alguns inocentes poderão ser injustamente punidos, contudo, a situação nunca foi tão promissora em nosso passado recente. Mas o certo é que nossos tribunais não terão força suficiente para proporcionarem uma efetiva mudança neste quadro sem o respaldo da população, sem o apoio de variadas classes produtivas e intelectuais. A hora da revolução é agora. Os tribunais se levantaram e temos de ingressar nesta jornada, minimizando algumas injustiças e maximizando o ciclo de mudanças que desponta sobre nós.

( leonardo@beckhauseradvocacia.com.br )
*Advogado em Joinville"

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a2215538.xml&template=4187.dwt&edition=10811§ion=882

Este texto foi publicado na data de hoje, no Jornal A Notícia.
O autor do texto é advogado da AJACS - Associação dos Agentes Comunitários de Saúde de Joinville.